Independência, uma rádio inesquecível! – Parte II
Mais algumas notas sobre a emissora AM que inovou e ditou moda nos anos 60/70 em Curitiba.
Independência na “crista da onda”, Independência “super-bacana”, Independência “frequência-fixa” e RI, primeira estação daqui…” foram alguns dos muitos “slogans” que fizeram o marketing vitorioso, em tempos nos quais o estabelecimento de uma marca não se denominava “marketing”.
Musicalmente, a importância daquele rádio novo obrigava um artista famoso ou não a dirigir-se, assim que chegasse à cidade, ao Edifício Asa, na Praça Ozório, para dar entrevistas no microfone de sucesso. Jair Rodrigues, sambista em alta, no dia de um show em Curitiba, foi naquele prédio onde se localizavam os estúdios.
Como o elevador estava com defeito, subiu a pé os 22 andares para “caitituar” seu primeiro sucesso Deixa isso pra lá… Em compensação pelo esforço despendido, no encerramento da entrevista ganhou da emissora uma belíssima pasta executiva da marca IKA.
A temperamental Elis Regina e Roberto Carlos, artistas de difícil acesso, em viagens aéreas a Curitiba, consentiram que a reportagem RI transmitisse entrevistas exclusivas com eles, desde os aviões em que viajavam. O repórter aéreo, Gilberto Fontoura, claro…

Nenhum outro repórter de rádio do Brasil igualou o número de entrevistas feitas por Gilberto Fontoura com o rei Roberto Carlos
Os shows de Roberto Carlos se tornaram marca registrada da Independência, sempre com total exclusividade. E também as transmissões dos festivais de música da Record, diretas de São Paulo (a TV trabalhava ainda com videotape e o programa da quarta-feira só chegava em Curitiba dias depois e era transmitido na semana seguinte).
Além das transmissões dos festivais de música, inclusive da Bienal do Samba, outra realização da TV Record, organizávamos caravanas de ouvintes para assisti-los no auditório da TV Record em São Paulo.
O novidadeiro Jofre Cabral e Silva aceitou uma sugestão nossa de trazer a Curitiba, logo após o encerramento do 2º festival, o novato compositor-intérprete Chico Buarque de Holanda para cantar sua vitoriosa A Banda – primeiro lugar ao lado de Disparada (Jair Rodrigues) no festival realizado em 1966 – em show inédito promovido pelo Santa Mônica Clube de Campo, realizado (e transmitido pela Independência) na Rua Marechal Deodoro.
Foi prestigiado por imenso público, que assistiu de graça a primeira aparição profissional do futuro astro da MPB.
Obs.: Chico, mais tarde, renegou a sua “banda” famosa, vendeu seu direito autoral e nunca mais cantou a música que marcou sua estréia como autor e intérprete.
Gilberto Fontoura ficou conhecidíssimo nos bastidores das TVs, primeiramente em São Paulo e depois no Rio de Janeiro, entrevistando os grandes astros nacionais. Na TV Globo, já detentora de grande audiência nacional com sua dramaturgia, ele deflagrou esquema de gravação de reportagens com atores que viviam personagens principais das novelas que já alcançavam grande audiência também na capital do Paraná. Foi uma grande sacada…
A história do Carnaval brasileiro, produzida pelo professor Alceu Schwabe com script de Luiz Geraldo Mazza; a supercobertura das eleições de 68 (Eleição se ganha com o cérebro…) utilizando o único computador profissional (da Celepar) do Paraná; as 24 horas de programas In Memoriam (dia de finados); e a Cobertura de vestibulares foram alguns feitos com alto retorno de prestígio, audiência e faturamento.
Ah, o jornalista Luiz Geraldo Mazza (hoje, comentarista político da CBN-Curitiba) aceitou nosso convite e foi produtor de inédito especial com Roberto Carlos, talvez o primeiro programa rotulado como “especial” do rádio brasileiro.
Isso e muito mais foi conseguido graças ao trabalho comprometido com as metas programadas para fazer da Independência a melhor das emissoras paranaenses, após o período de ouro do rádio curitibano (até 1960).
Depois de nossa ultima passagem por aquela emissora (1969-1971), ocorreram várias gestões, com troca de radiodifusores, o que alterou bastante a qualidade do seu quadro funcional e da programação (Gilberto Fontoura e Carlos Cunha haviam deixado a emissora).
Ao ser negociada com o grupo Positivo, a Independência caiu em mãos de bons e sérios empresários de grande potência.
Eles permitiram que a dupla Gilberto/Carlinhos, que havia sido recontratada, mais Euclides Cardoso desenvolvessem um rádio de primeira, inclusive com o lançamento da Brasil 104, FM da Independência, que foi supimpa, gerando uma das melhores programações de MPB do país.
Remember o rádio adulto e bem feito com um cast em que pontificavam Jamur Jr., Lais Mann, Luiz Carlos Martins, Algacy Túlio, Mario Celso e equipe esportiva liderada pela dupla Airton Cordeiro-Fernando Cesar. O jornalismo, com intensa atuação de reportagem geral (4 carros de externa), contribuiu em grande parte para que a Independência permanecesse por vários anos líder de audiência. Gilberto me sucedeu bem…
Anos atrás, numa de minhas visitas a Curitiba, conheci o megaempresário Oriovisto Guimarães e fiz um desabafo: “Eu não perdoo o Sr. e seu grupo.” Ele, surpreso, quis saber qual o motivo de minha afirmação e eu confessei que o desapontamento era porque o grupo Positivo tinha se desfeito das duas emissoras Independência.
Hoje, mais do que nunca, tenho certeza absoluta de que se essas rádios continuassem com a marca Positivo, elas não teriam tido a má sorte de se transformarem em repetidoras, a AM de programação religiosa e a FM de programação variada gerada pela Jovem Pan 2 de São Paulo. Ambas perderam suas identidades. Passado muito tempo, a comunidade curitibana ainda não encontrou substitutas à altura para as “falecidas”.
PSM – No Post Script Musical, presença de Disparada, música de Geraldo Vandré, 1º lugar no II Festival Nacional da Música Popular Brasileira, da TV Record (1966) – No tape, aparece com destaque Airton Moreira, percussionista paranaense, tocando “queixada” de burro, inusitado componente no arranjo musical de raiz, bem antes de se juntar à cantora (brasileira) Flora Purim. O casal de artistas se firmou como um dos mais importantes no cenário do jazz americano.
Em tempo:
O conteúdo desse relato saudosista sobre um pouco da história da Rádio Independência do Paraná poderia ter sido muito mais rico se pudessem ser utilizados documentos gravados de alguns de seus programas e as vinhetas, que não podiam ter sidos apagados ou desaparecido.
Lamentavelmente, sobre o farto e importante arquivo ninguém sabe, ninguém viu. Não encontrei nem a bonita vinheta-prefixo produzida pelo compositor Archimedes Messina, valorizada por excelente coral acompanhado de grande orquestra. Muitos dos caros leitores ouvintes por certo lembram de seus versos:
“Rádio Independência
Curitiba, Paraná…
Som de alta fidelidade
24 horas no ar…”
Nota de Falecimento
A Rádio Independência, AM, 1370 kiloherts, desapereceu em razão de “morte prolongada” por maus tratos de seus inúmeros donos – faz uns 4/5 anos – quando teve sua identidade cancelada pelos novos difusores que compraram sua concessão. Pobre coitada…